Percepções do espaço público por Henrique Steyer

  • O espaço urbano retrata a espacialização das relações que se estabelecem entre os homens, e o local público é a arena onde essas relações são firmadas. Este artigo mostra que, com o aumento da criminalidade e a fragilidade da segurança pública, a população passou a se esconder atrás de muros e grades, desenvolvendo um forte esquema de fuga do mundo real. Na realidade, o ser humano se comporta da mesma forma que os animais selvagens, onde a disputa exige que o predador esteja sempre preparado para abordar a presa, enquanto que a vítima precisa estar em constante vigilância para não ser surpreendida.

    Ao longo da história, as sociedades se organizaram das mais diversas formas. Ora respeitando severas leis, ora revoltando-se contra as mesmas. Ora construindo cidades extremamente ordenadas, ora vivendo de maneira completamente desorganizada e orgânica. O que devemos levar em consideração é o fato de que pra tudo isso houve um motivo, uma justificativa que muitas vezes fugiu do entendimento das pessoas de sua época.
    Ora construindo cidades extremamente ordenadas, ora vivendo de maneira completamente desorganizada e org
    E hoje em dia? De que maneira estamos nos organizando na sociedade contemporânea em que vivemos? Uma geração workaholic em sua maioria, onde muitos passam os dias fechados em seus escritórios dentro de arranha-céus, com aparelhos de ar condicionado ligados vinte e quatro horas por dia. Escondidos num mundo em que fica difícil saber se já é noite ou ainda é dia, se esta chovendo ou se tem sol. Uma geração que vem crescendo acostumada a freqüentar shoppings centers, que hoje em dia oferecem todo o entretenimento que se pode precisar. Vivemos numa sociedade onde o ideal de vida passou a ser viver em condomínios extremamente fechados e isolados. Passamos a criar pequenas cidades, onde, ilusoriamente, todas as nossas necessidades de lazer podem ser supridas. Porém, quem hoje em dia conhece o vizinho que mora ao lado? Quem sabe o nome da família da casa da frente? Só o que há é uma constante fuga da violência das ruas. Desta forma, no momento em que nos escondemos fora das ruas, estamos entregando as mesmas para aqueles que nela não deveriam estar.

    Não estaríamos caminhando na direção contraria daquilo que realmente procuramos? Não estará a tão sonhada segurança em um local vivo e bem freqüentado por pessoas de bem? Precisamos ocupar as ruas e bairros, e não fugirmos delas como estamos fazendo. É hora da sociedade se apoderar do que é só seu. Cidades cada vez maiores, carros cada vez menores, ônibus, trens e aviões maiores, mais capacidade em menos volume, mais carga em menor tamanho. Vida louca. Internet. Música. Moda. Movimento. Informação. Todo mundo cada vez mais igual e ao mesmo tempo tendo que ser diferente. Neste ritmo frenético com que cara as coisas vão ficar? Com a cara que o designer criar.

    As pessoas se acostumaram a previlegiar os mecanismos cerebrais de defesa, menosprezando o que é corriqueiro e mantendo-se sempre atentas ao que é novo, desenvolvendo uma predisposição a agir rapidamente ao perigo eminente. Isso tudo nos gera uma situação de stress coletivo, uma vez que o pavor que a emoção provoca é mais forte que a interpretação racional do provável perigo que estejamos enfrentando.

    As palavras de ordem agora são: reconhecendo as necessidades, os gostos e as aspirações dos utilizadores, renovar e revitalizar os espaços públicos e o edificado.
    É neste sentido que, em determinados encontros de acadêmicos e de profissionais, bem como no âmbito de estudos das mais diversas áreas e disciplinas, têm aparecido reflexões que apontam para a necessidade de políticas de renovação, revitalização e reordenamento dos espaços urbanos. Trata-se de equacionar outras formas de conceber e produzir a cidade, nas quais os espaços públicos abertos de lazer e recreação são uma das vertentes de maior incidência a serem consideradas nas tomadas de decisão, por que os indivíduos diante do atual cenário já reorganizaram suas necessidades de “sobrevida”.