Como ser assistente de estilo na Balenciaga.

O Moda e Business inicia com esse post, um projeto que pode fazer a diferença para você que busca um posicionamento de carreira, o primeiro emprego , ou apenas o sonho de trabalhar com moda .
Aqui as histórias são reais, de pessoas reais que contam com suas palavras sua trajetória no mercado da moda.

Agora você quer saber como trabalhar como assistente de estilo na Balenciaga em Paris? A Mônica mandou seu relato, e estamos colocando na íntegra, pois nessas palavras você sente as emoções, e consegue se colocar no lugar dela! Prepare-se para sonhar alto! seus sonhos podem tornar-se realidade!


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Bom, eu vim para Paris no inicio de 2007. Eu morava no Rio e estudava Direito. Os meus pais também estudaram Direito e foram bem sucedidos em suas carreiras. Então, como em boa parte das famílias brasileiras, a filha mais velha seguiu os passos dos pais. No Direito eu conheci meu namorado, que resolveu mudar radicalmente sua vida e veio morar em Paris em 2006. Em 2007 decidimos morar juntos e construir um projeto aqui na França. Eu, que já gostava muito de tudo relacionado a moda, vi a oportunidade de começar uma nova carreira aqui, longe dos preconceitos e das dificuldades do Brasil.

Eu comecei uma escola de moda em Paris que se chama Atelier Chardon Savard. O ano letivo começou em setembro de 2007 e eu tive 3 meses para aprender Frances para poder entender as aulas. Eu não falava nada antes de vir. Durante o primeiro ano na escola, eu comecei a desenvolver a minha paixa pela Balenciaga. Eu conhecia apenas os acessórios quando morava no Brasil, as bolsas para ser mais precisa.

Aqui em Paris eu descobri o mundo Balenciaga e fui me identificando cada vez mais. No fim do primeiro ano na escola eu tinha que fazer um estagio de 3 meses em uma marca, revista, escritório de tendencia...
Neste momento, há pouco mais de 4 anos atrás eu comecei a enviar meu currículo para a Balenciaga. Eu consegui ser chamada para uma entrevista, na época para fazer um estagio na área de compras, mas a entrevista foi anulada na véspera. Foi a primeira vez que eu tive a certeza que eu nunca conseguiria. Eu então decidi ir passar minhas ferias no Rio e procurar um estagio la mesmo. Ao contrario de Paris, no Rio teria certamente alguem que iria conhecer alguem, que iria conhecer alguem... Não deu outra, em menos de uma semana eu estava estagiando na Santa Ephigenia. No final dos três meses de estagio me propuseram um contrato e naquele momento eu decidi que era importante para a mim eu ver na pratica, eu entender onde eu estava me metendo. Fazia apenas um ano que eu tinha começado a estudar moda e eu fiquei muito animada com a possibilidade de trabalhar. Meu namorado voltou comigo, devolvemos apartamento, guardamos nossos moveis, objetos e roupas na casa de amigos, grandes amigos, posso dizer, e fomos tentar a sorte no Rio de Janeiro.

Em menos de um ano depois nos demos conta que aquilo não fazia sentido. Eu não coloquei nada em pratica do que tinha aprendido na faculdade, pois o método de criação era tao rápido e tao diferente que não dava tempo de pensar, de criar. Conclusão, voltamos para Paris. Eu voltei para a escola e em um ano eu tinha o primeiro diploma, que já me dava o status de estilista. Primeira questão, continuar estudando ou parar e procurar um trabalho. Acreditei na minha intuição e resolvi trabalhar. Pela segunda vez eu enviei meu currículo para a Balenciaga, muitas vezes, umas dez. Mandei para diversas marcas também. A única certeza que eu tinha nesta época era que se fosse para trabalhar na Franca eu queria trabalhar numa marca deste nível. O ideal era a Balenciaga, mas eu tinha consciência de que a maioria das pessoas não trabalha onde quer e que eu estava exigindo muito para quem estava apenas começando uma carreira. Bom, durante 5 meses eu não tive resposta alguma. A minha escola não ajudou os alunos como nos foi vendido e eu me encontrei perdida, tendo que colocar mais uma vez na balança a questão de voltar ou não para o Brasil, ate que uma pessoa da Balenciaga enviou um anuncio de estagio para a minha escola, que por sua vez divulgou em sua pagina no Facebook. Eu, que já não tinha mais esperança nenhuma respondi o anuncio obrigada por mim mesma, para ter a certeza de que se nada desse certo eu pelo menos teria feito a minha parte. Dois dias depois eu estava fazendo a entrevista com quem viria a ser minha chefe e uma semana depois eu já estava frequentando a Balenciaga, já tinha crachá com meu nome para poder acessar os prédios, já tinha minha mesa, meu canto.

Durante um ano eu estagiei na Balenciaga, no departamento que eles chamam de Bureau des Maquettes. E uma esquipe de três pessoas, uma estilista com formação também em modelagem e duas estagiarias. Esta equipe trabalha exclusivamente com os estilistas da coleção principal feminina, de desfile. O objetivo deste Bureau e colocar em pratica as ideias dos estilistas, de uma forma muito mais rápida que o atelier, sem obrigação de trabalhar acabamentos e sem a obrigação de pensar na parte técnica durante a execução. Resumindo, na pratica, a gente passava o dia inteiro fazendo moulage, se divertindo. Era um trabalho muito interessante porque a gente não tinha a responsabilidade de criar uma coleção, mas sim de ajudar os estilistas a criarem. O nosso prazo não era o dia do desfile, e sim os dias das reuniões com o Nicolas Ghesquiere.

Apos um ano eu tinha a certeza que não queria continuar estagiando. Eu não tive a oportunidade de ser efetivada. Na verdade eu queria mudar de equipe, queria trabalhar diretamente com os estilistas, queria ser estilista, e não tinha vaga neste momento. Eu sai da Balenciaga e fui procurar um trabalho. Sete meses depois de procurar trabalho sem parar eu resolvi abrir as portas para o Brasil e passei um mês no Rio fazendo contatos e passando por entrevistas. Eu já tinha desistido completamente da Balenciaga quando uma amiga minha que começou o estagio comigo e tinha sido efetivada, me ligou dizendo que uma estilista nova, que eu não conhecia, estava precisando de um assistente. Eu enviei meu currículo rapidamente e uma semana depois eu estava embarcando para Paris para fazer a entrevista. Dez dias depois eu estava de volta, com meu novo crachá, desta vez com um Email, ramal e celular só pra mim. No inicio não dava nem para acreditar.

Isso aconteceu em maio. Eu primeiro assinei um contrato que na França se chama CDD, que tinha a duração da temporada, ou seja, ate o desfile, que foi no fim de setembro. No inicio de outubro eu assinei um CDI, que tem duração indeterminada, e pensei estar finalmente entrando numa era de estabilidade quando veio a bomba e ficamos sabendo que o Nicolas Ghesquiere estava deixando a direção artística da Balenciaga. A gente não sabe ainda quem sera o nosso novo chefe, não sabemos se sera um homem ou uma mulher, se ele vai gostar da gente ou não, se ele gosta do trabalho do Nicolas ou se vai querer mudar tudo. Não sabemos nada. Não sabemos nem qual sera a língua oficial falada no trabalho, que ate agora era o francês. Talvez de um dia para o outro eu tenha que passar a falar inglês, a participar de reuniões em inglês. Tudo isso pode parecer um pouco estranho, mas pra mim e para quem passa por uma longa experiência internacional e quase normal. E normal você ter amigos completamente diferentes que você, que não conhecem a Xuxa e acham que o Carnaval no Brasil se limita ao desfile na Sapucaí. Também e normal você ser convidado para um jantar com dez pessoas de diferentes nacionalidades e trocar do Frances para o inglês como quem troca de sapato. Aqui no trabalho, na minha equipe, nos somos 16 estilistas e assistentes. São 7 nacionalidades, 2 línguas oficiais e 3 línguas que eu escuto com frequência, mas não falo. Isso e morar fora, isso e sair de si e conhecer outras culturas. E descobrir que o mundo e enorme, e que nos representamos uma parte muito pequena dele.
E claro que também tem inúmeras desvantagens, mas que só tem graça falar quando nada vale a pena.

Minha historia é  grande, espero não ter cansado vocês. Eu gosto de contar o meu percurso porque as vezes pode parecer muito fácil estar onde eu estou, mas foi muito difícil, foi muito mais difícil do que se eu estivesse no Brasil. E muitas vezes eu pensei em desistir. Eu gostaria de voltar ao Brasil um dia, eu morro de saudades. Ainda não sei quando porque o mercado no Brasil e muito diferente e eu conheço pouco. A única coisa que sei e que quero voltar bem, em uma boa posição, para ter valido a pena todo o meu esforço. 

Manoela Carvalho
27.11.2012

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