A nova passarela --- Formato dos grandes desfiles começa a dar sinais de cansaço

Em tempos de crise financeira e de comunidades virtuais, o tradicional formato dos grandes desfiles começa a dar sinais de cansaço . Por Carolina Guerra

No ano de 1858, o costureiro britânico Charles Worth, considerado o pai da alta-costura, convidou algumas damas da aristocracia francesa, suas principais clientes, para vestir e desfilar com as peças da coleção que acabara de criar. Segundo especialistas, essa foi a origem do desfile de moda. Mais de 150 anos depois, a fórmula que continuou praticamente a mesma começa a dar sinais de cansaço.

Por um lado, a economia mundial exige orçamentos mais contidos. Afinal, estamos falando de apresentações que, pelo menos no Brasil, começam custando R$ 50 mil e chegam, facilmente, aos R$ 500 mil. Por outro, com o desenvolvimento das redes sociais, lançar um desfile pela net tem se mostrado mais eficiente para atingir determinado público-alvo. E isso tem valido para grifes consagradas.

Recentemente, a Louis Vuitton anunciou a transmissão de seus desfiles pela internet. O estilista Marc Jacobs, uma das atuais sensações do mundo da moda, também embarcou na onda: transmitiu seu desfile ao vivo pela web. E foi além: semanas antes, seu sócio, Robert Duffy, chegou a dialogar com os fãs da grife e a pedir ideias para a apresentação via Twitter – a rede mundial de microblogs.

Novos formatos: o estilista americano Marc Jacobs (à esq.), que transmitiu sua coleção pela internet, e a apresentação da grife Cavalera, no Minhocão, em São Paulo: foco no mundo virtual e no consumidor jovem

“O desfile é uma fórmula que funciona. Mas isso não impede que se dialogue com outras possibilidades”, aponta João Braga, professor de história da arte da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). “A tendência é que os desfiles sejam cada vez mais performáticos para atrair o olhar do público”, aponta.

Por performático entenda-se quebrar o modelo de manequins andando em linha pela passarela. Ser criativo e menos megalomaníaco. É o que tem feito, por exemplo, a grife de moda jovem Cavalera, do empresário Alberto Hiar. Para fugir do lugar- comum, Hiar começa escolhendo locações diferentes para seus lançamentos de coleção, como a Galeria do Rock, o Museu do Ipiranga e o Elevado Costa e Silva (o famoso Minhocão), todos pontos conhecidos da cidade de São Paulo.
Dessa forma, permite inclusive que o desfile se torne uma apresentação pública – o que atinge em cheio os seus consumidores, os jovens. “Procuramos uma cenografia que se encaixa no tema de nossas coleções”, conta Hiar, que mantém sob sigilo o local de sua próxima apresentação, no dia 11 de junho. Para a Cavalera, que investe cerca de R$ 150 mil por evento, com apoio de patrocinadores, ser diferente vale a pena. “Nossos desfiles têm um grande retorno de mídia e os produtos apresentados passam a ser desejados”, comemora Hiar.

Se algumas marcas buscam fórmulas alternativas, outras preferem se abster das apresentações ao vivo, até ter uma ideia melhor. É o caso das grifes Huis Clos, Maria Garcia e UMA, que faziam parte do time do São Paulo Fashion Week (SPFW), cuja edição de verão 2011 vai de 9 a 14 de junho, em São Paulo. As duas primeiras grifes pertencem à estilista Clô Orozco.
Ela afirmou que não participará do evento para aumentar sua estrutura atual de oito lojas e 62 pontos de venda. “Estamos nos preparando para crescer mais de dois dígitos a partir de 2011. Daí essa decisão”, explica Antonin Bartos, gestor de operações do Grupo Huis Clos.

Já a grife UMA, do empresário Roberto Davidowicz, fez diferente.
Deixou as passarelas do SPFW e optou por mostrar suas coleções por meio de vídeo e instalação. Foi assim com a atual coleção de inverno, cuja filmagem contou com a edição de Alex Carvalho, que já trabalhou em clipes da banda inglesa Cold Play. As estampas da coleção acabaram virando obra de arte, através das mãos da artista plástica Regina Silveira, que padronizou a fachada da loja da grife, na Vila Madalena, em São Paulo, com o tema gráfico da coleção.

Performance: apresentado em 2004, o último desfile de Jum Nakao contou com modelos usando roupas de papel, que foram rasgadas ao final

O precursor do “não desfile”, no Brasil, é o estilista Jum Nakao. Em junho de 2004, ele apresentou uma performance com modelos usando roupas de papel. Ao final do ato, as peças foram rasgadas. “Mesmo em uma área tão efêmera quanto a moda, quando um trabalho é feito com consistência, ele permanece”, diz Nakao, cujo desfile foi mais do que uma performance: um protesto ao ver que não seria possível continuar seu trabalho sem abrir mão de seus valores.

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