ACABOU - Fica o Buraco!

Acabaram as semanas de moda Brasileira, e agora todo mundo já sabe das tendências do inverno. Houve identificações com coleções passadas, como sempre. Teve marcas sem sentido, mas com dinheiro pra autopromoção, teve ainda as varejistas, com sua gama de roupas comerciais na passarela, algo que vende, mas que não passa conceito e nem emociona.
Tem coisas que deveria ser regra! Mas tudo bem porque nem todo mundo tem o dom da emoção, e o empreendedorismo está em alta! O jeito é assistir assim mesmo, e se o Mkt e o apelo forem bons, por que não adquirir?
O que vamos querer pro inverno, ainda vai depender do clima... só sei que muita coisa que vimos vai ficar só na memória, a maioria não vai sair das araras... Ainda vai acontecer o que será! Assim como ninguém mais consegue adivinhar a meteorologia, a moda está mais ou menos à mesma coisa... Apesar da previsão, não temos mais certeza do que conseguiremos vestir amanhã.
Em tempos de intempéries da natureza, de economia, de conscientização, de crises a moda deveria traduzir tudo isso, deveria seguir o conceito da realidade... no entanto a maioria continua SERVINDO DE TAPA BURACO...

Falando em buraco, muita gente nem imagina que nas salas de desfiles são entregues a imprensa um papelzinho chamado ‘’release’’, esse serve para que a imprensa possa se guiar na hora do desfile e saiba direitinho o conceito e as inspirações dos criadores. Neles encontram-se todas as informações sobre a equipe, as cores, os tecidos. Pode ser mesmo só um papelzinho, mas pode ser um jornal, como foi o caso da marca Amapô que de um jeito original, juntou pessoas bacanas a escreverem coisas diferentes, além de todo o resto tradicional ao release... Foliando as páginas, um amigo me chamou a atenção para o texto da Nina Lemos que não podia deixar de colocar por aqui:

CADA UM COM SEU BURACO
Existe um buraco. Todo mundo tem um dentro de si. Só que cada um dá um nome para esse buraco. Ele é côncavo, parece. E dizem que ele deveria ser preenchido pelo convexo, essas palavras complicadas das aulas de geometria e das músicas do Roberto Carlos. Mas a real é que buraco é buraco. Não tem saída. Inclusive porque o tal buraco não tem porta. Nem fundo.

Tem quem viva procurando o tal convexo. As mulheres, talvez por culpa da música do Roberto, geralmente acham que o buraco tem nome de homem. Já conheci buraco chamado Marcelo, Ronaldo, Francisco. Há várias maneiras de tentar tapar o buraco. Uma delas é tentar fazer isso comprando. São aí que surgem os convexos (ou tapa buracos) com nomes de grife. Tem quem tente tapar o buraco com Hermés, Vuitton e Channel. O problema é que um dia os convexos com nome de homem vão embora. E os com nome de grifem datam. Saem da moda. Vão parar no saldão.

Quem é viciado em preencher buraco com nome de homem, logo arruma outro pra tapar o seu côncavo. Só que não tapa. Aviso. Um dia eles embora. Repito. E mesmo se não forem, é bom você lembrar que ELE é só um nome que você escolheu para tapar o seu buraco. Corta para a menina chorando pelo Renato! Ele apenas mostrou que existia um buraco. Do lado dela tem uma menina feliz com sua bolsa Chanel. Essa bolsa tapará o seu buraco por um mês. Logo ela verá que a bolsa era só uma bolsa. E que o buraco continua.
A única maneira de sair do buraco é aceitar que ele existe e nunca vai embora. É só você parar de procurar o convexo e perceber que ele é a mesma coisa que o buraco. Não existe saída. Ame o seu buraco. Odeie o seu buraco. Só saiba de uma coisa: ele sempre vai estar ali. Você que se vire com ele Isso é problema seu. Não é meu. Cada um com seu buraco. E não se fala mais nisso.

Fonte: Nina Lemos para o jornal da AMAPÔ SPFW Inverno 2010